sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Menor Abandonado


MENOR ABANDONADO 

 

   Dê-me a sua mão não me deixe aqui, eu preciso muito de você;
   Faça alguma coisa por mim, você sabe o quanto preciso de ti;
   Olha para mim, não me ignore, faça um gesto de generosidade hoje enquanto ainda há tempo;
   Sei que estou inserido em programas do governo, elaboraram até um estatuto para nós crianças e adolescentes, mas eu não sou fictício, não sou numero, porém não me trate como estatística, eu sou real, faça alguma coisa por mim;
   Será que não tenho direito de ser como você? Quero estudar, me formar, ter um lar para me abrigar, não gosto de dormir nos bancos da praça, quero que você me veja, me perceba como o ser que sou não como um risco pra você e a sociedade.
   Cansei de ser pivete, moleque de rua, quero ser alguém não me despreze, saiba que há muito tempo atrás, também houve um menino que nasceu em uma manjedoura, dormiu as escondidas em celeiros, também foi perseguido pelos reis da época, via nele um risco, um açoite aos seus bens, assim como eu, quando passo percebo que me olham de soslaio, seguram firmes as suas bolsas, suspeitam que eu vá lhes roubar e quando me aproximo para pedir, franzem a testa e respondem rispidamente, eu não tenho nada pra te dar.
    Quando chegam as noites me desespero, a lua ilumina o meu quarto, onde meu leito é de concreto, meu cobertor são jornais e papelões, meu jantar foi servido em outros lares e para mim restou o vento.
   Há tempo que uso esta mesma armadura rígida, fétida, que envolve o meu corpo, às vezes em meus sonhos me vejo sorrindo, correndo feliz por um quintal que seria da minha casa.
   Ah! Que belo jardim, flores perfumadas não estou só, todos os meus amigos estão lá comigo, todos muitos felizes, derrepente espreita o dia o sol escaldante batendo em meu rosto, devagarzinho abro os olhos e vejo as pessoas apressadas a passar por mim.
   Vivo num quintal alheio, não estou sozinho, do meu lado todos os meus amigos e o sonho acabou,  a minha frente vejo a praça, as mesmas flores dos meus sonhos lá estão, as azaleias, as roseiras, as palmeiras todas ornamentando o jardim da nossa praça bem defronte há uma igreja, para onde todas as manhãs nos concentramos para o café e a noite tomarmos  sopa.
   È assim o meu dia, realidades diversas, uns se drogam, outros se embriagam, outros roubam, é essa a minha rotina, até que o dia termina e, aqui estou denôvo a deitar.
   Eu queria que os meus dias fossem igualzinho aos teus, mas são tantos percalços que fazem de mim estatísticas, clichê de campanhas e enquanto isso caminho ao holocausto que não demora porvir.
   Dê-me sua  mão, faça algo para que eu não morra, o precipício é logo ali, e eu não sei mais o que fazer, estou a caminhar sozinho, paro num farol, pego a minha flanela e ofereço os meus préstimos.  
   Muitos nem se quer abrem a janela do carro, ou quando me veem as fecham. Às vezes ponho a pedir, então me dê um trocado, mesmo assim parecem surdos, indiferentes nem me conhecem, então  me pergunto será que  sou gente ou  indigente, seja indulgente não me trate assim.
   Mais uma vez, dê-me a mão, preciso de você, faça alguma coisa por mim e por você, não quero que sinta medo quando me veem, cansei de ser o menor abandonado perambulando pelas ruas, permita-me viver meus sonhos, porque a realidade já a conheço e sei onde vai acabar.

 
Artigo escrito pelo Profº  Rosalvo Silva Filho
Formado em Ciências Físicas e Biológicas pela Faculdade Profº José a. vieira
Latus Sensus em Saúde e Meio ambiente pela Universidade de Lavras
Formação Acadêmica em Matemática pela Unioesp.

 

Um comentário:

  1. Olhai os lirios do campo, mas avistai os jovens abandonados do nosso país, de que adianta flores no campo, se nas nossas cidades existem crianças abandonadas, sem esperança, sem lar, sem familia, sem casa pra morar.

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