sábado, 19 de novembro de 2011

O que lhe ofusca os olhos enrubesce o coração

         O QUE LHE OFUSCA OS OLHOS ENRUBESCE O CORAÇÃO

   Minha cor é escura não é por acaso! Mas por uma questão de adaptação e evolução. Assim como todas as espécies existentes, os meus ancestrais também tiveram que, desenvolver mecanismos, os quais permitissem suportarem as altas temperaturas e, a grande exposição ao sol. As nossas peles são escuras devido à grande produção de melanina que dar-nos a proteção natural contra os raios ultravioleta.
   Reparem também que, os nossos olhos são escuros, devido a grande quantidade de luz absorvida pela retina e, os nossos corpos possuem poucas pelugens, nossas cabeças há poucos cabelos por causa da grande perda de água que sofremos.
   O sol ofuscante que lhes cegam os olhos, incidem seus raios sobre nós, permitindo-lhes que, visualizem a beleza da nossa cor. Dizem por ai que a cor escura denota-nos a ausência das cores. Houve até quem dissesse que o fato de termos os cabelos carapinhos, tínhamos a capacidade intelectual reduzida.
   Na terra dos meus ancestrais, havia infinitas riquezas, minerais que eles usavam como ornamentos aos seus corpos. Despojados dos valores econômicos, usavam ouros, diamantes, rubis e safiras, como adereços, quanto maior as pepitas mais exuberantes encontravam-se diante das suas tribos.
   Homens, mulheres e crianças admiravam a natureza, desfrutavam de todo seu potencial, sem devastação caçavam e pescavam o necessário para suprir os aldeões. Jamais se esqueceram dos regojizos aos Deuses, pelo alimento, pela saúde, pelo nascimento e até mesmo pelas bravuras dos novos guerreiros e caçadores.
   O conhecimento que esse povo acumulou, desde a produção do fogo até a cura através das ervas medicinais, contribuem hoje para homem moderno. Os seus costumes poderão ser observados em diversas partes do planeta.
   Esses povos foram tirados de suas terras para que, em terras alheias fossem forçados a trabalharem de sol a sol sob chibatadas e acorrentados. Os grilhões agora eram seus ornamentos, as cangas eram suas armaduras e, suas vidas já não os pertenciam. A fogo quente receberam as insígnias dos seus proprietários.
   Viraram objetos e foram leiloados em lotes como produtos. Navios negreiros traziam vidas esvaecidas de sonhos e liberdades, onde a carga principal eram os negros imputados da condição humana, a senzala a partir de então será o seu lugar.
   Negros proibidos de serem gentes, negros proibidos de sorrir, negros sem direito de sonhar, sem ter liberdade, sem ter harmonia, negros eram os navios negreiros que os traziam, sem terem esperanças morriam no cais ao desembarcarem.
   Que mal fizeste o negro? Quem sabe a tua diferença provocava os hipócritas da corte. Incapazes de produzirem, prosperarem pelos seus próprios méritos, necessitaram dos sacrifícios dos negros, dos seus trabalhos forçados, obrigando-os a pegarem nas inchadas, ararem a terra, semear, plantar, colher e armazenar. Assim como os negros fizeram nessa imensidão de terra, homem algum o fará.
   Mesmo aqueles que fingem não saber da dívida histórica que, a nossa pátria tem com os negros, há pessoas que fazem questão de clarear a raça, criando pseudônimos como: moreno, pardo, mulato, mameluco, cafuzo. Jamais tirarão as nossas origens, somos negros na cor e afros descendentes, por extradição.
   Assim como nossos ancestrais adaptaram-se ao clima, os nossos antepassados também sobrepuseram as condições desumanas lhes impostas. Nossos contemporâneos devem apropriar-se das condições herdadas e levar às gerações futuras, as experiências por eles vívidas que, constem na linha do tempo, nos livros de histórias os relatos de um povo que não se dizimou porque foram capazes de adaptar-se ao ambiente e criar o seu próprio ecossistema.

Artigo escrito pelo Profº Rosalvo Silva Filho Formado em
Ciências Físicas e Biológicas pela Faculdade Profº José A. Vieira
Latus Sensus em Saúde e Meio ambiente pela Universidade de Lavras
Formação Acadêmica em Matemática pela Unioesp

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